domingo, 1 de março de 2020

ZAMARAK: EXÍLIO, MORTE E VIDA

 Dentro da Arte Feiticeira praticada pela Cova Negra está a prática do chamado e adoçamento dos espíritos, consoante com as linhagens espirituais de bruxaria e curandeirismo que buscamos em nossos trabalhos. A Cova não é um lugar de escuridão eterna, pois apesar de sua estética obscura, esse é um local de renascimento. Aquele ou aquela que busca esse caminho passa ou ainda passará por uma jornada obscura em si mesmo, o trabalho da Cova é superar esses medos e essa estética para de fato encontrar aquilo que a nossa deusa-bruxa cadavérica é: a deusa da vida.


Enquanto alguns grupos preferem percorrer o caminho da vida até a morte, como é a jornada natural, começamos pelo caminho inverso, buscando na morte o respeito, amor e admiração pela obra daquela que é a Vida, que constantemente nos relembra do privilégio que temos ao vivermos e de todas as coisas que temos ainda a viver. Pois como o Espírito da Morte, ela ceifa a vida conforme sua necessidade assim determinar, isto é, com capricho e nenhuma outra vontade que não seja a dela mesma, ela toma aquilo que pertence a ela como num golpe de asas que leva todo o ar embora de nossos pulmões.


Dentro da Cova, a Morte e a Vida estão todas contidas na Rainha Bruxa, mas alguns também entendem que Zamarak, o espírito guardião do caminho da Cova Negra, é contraparte vital, o regente das multidões e legiões é o senhor da Vida-Morte, aquele que rege a vida até seu caminho a morte, o que também significa que ele é senhor de tudo aquilo que experimentamos enquanto acordados, ao passo que a deusa-bruxa se torna regente de tudo aquilo que experimentamos enquanto dormindo, ou seja, inconscientes.


Zamarak é o deus-exilado, ele é a manifestação bifurcada do gozo da Rainha Bruxa em seu espelho negro, um emissário direto de sua vontade e desejo. Ele não é um espírito, mas uma multidão de mortos que se arrastam sobre a terra desde tempos remotos na criação. Grande parte dessa história que se liga a nossa dita coisas muito interessantes, as quais passarei nas partes abaixo, mas como o espírito mesmo disse: “Eu não sou esse, nem sou aquele, vim do escuro do céu a rasgar o véu do espelho negro na noite estrelada.” Deste modo, não interprete os textos a seguir como fatos pessoais de um espírito, mas sim de um coletivo de seres cujas histórias bebem da história da humanidade para que encontremos o fio de seu próprio labirinto, cujo premio no fim é conhecer seu mistério e poder.


UMA COLEÇÃO SOBRE ZAMARAQ

E OUTRAS POSSÍVEIS

INTERPRETAÇÕES



Os Amoritas: o Povo de Amaleque


“E vendo os amalequitas, proferiu a sua parábola, e disse:
Amalaque é “a primeira das nações;  porém o seu fim será a destruição”

Números 24:20


"Hei de riscar totalmente a memória de Amalaque de debaixo dos céus...
Porquanto o Senhor jurou, haverá guerra do Senhor contra Amalaque de geração em geração." 

Ex 17.14, 16


"Vai, pois agora e fere a Amalaque. e destrói totalmente tudo o que tiver,
e não lhes perdoes. porém, matarás desde o homem à mulher, desde os meninos
até aos de mama, desde os bois até as ovelhas,
e desde os camelos até aos jumentos".

I SM 15.3


Os Amoritas (traduzido como 'a terra de Mar.tu', ou 'povo da montanha'), ou os antigos babilônios, foram um povo semita de descendencia Mesopotâmica, especialmente conectado a região montanhosa de Jebel Bishri na Síria chamada de “a montanha dos Amoritas”. Escreviam num dialeto Acadiano e falavam num dialeto semitico do noroeste (também dita Levântica). Era um povo nomade dividido em clans regidos por Chefes Tribais ferozes. Os Amoritas descritos na biblia são um povo montanhoso que habitaram a terra de Canaã, descritos em Genesis 10:16 como descendentes de Canaa, neto de Noé. 

São descritos como um povo poderoso e de altura imensa, um de seus reis, Og (do hebraico עוג, gigante), era conhecido em algumas tradições folclóricas hebraicas por ter mais de 3.000 anos de idade e durante o díluvio teria agarrado-se na Arca de Noé (outras fontes dizem que havia na arca um compartimento especialmente dele). Era filho de Ahijah , neto de Shemyaza, o líder dos anjos caídos, Og também era irmão de Sihon.  Também aparece no Alcorão como ‘Uj ibn Anaq, um gigante e também um dos Dajjals (Dajjals ou "enganadores" extremamente relacionados ao tema dos anjos caídos no Islamismo). Foi rei de Basã, a cidade dos gigantes, para além do rio Jordão. Segundo o livro Os Pilares de Tubal Caim, a cidade-capital de Basã foi primeiramente habitada por “...antepassados gigantes, era a cidade real de Basã, e era chamada Astarote Carnaim.” Os autores ainda citam que essa cidade, devido o nome , indica que ali foi um centro do culto da “Astorote Cornifera”, cidade templo da Rainha dos Céus: Astarte. Foram também os “...habitantes originais da cidade sagrada de Meca.”

Eram adoradores de Amurru ou Martu às vezes também chamado de Ilu Martu. Que foi o deus patrono da cidade mesopotâmica de Ninab, cuja localização é até hoje desconhecida. É descrito às vezes como “Pastor” ou como um deus da tempestade (ramān) e é filho da deusa celeste Anu. Entre suas qualidades temos “bêlu šadī” ou “bêl šadê”, o Senhor da Montanha; “dúr-hur-sag-gá sikil-a-ke”, Aquele que habita na montanha pura (uma relação curiosa neste ponto é o mantra mágico para Lilith kisikil-lilake kisikil-ud-kar-ra) e “kur-za-gan ti-[la]”, Aquele que habita a montanha brilhante. Nas inscrições Zinčirli da Capadócia ele é chamado de ì-li a-bi-a, o Deus de meu pai. 

Bêl Šadê, possivelmente é o mesmo que ’Ēl Šaddāi, o deus de Abrão, Isaque e Jacó. É possível que Šaddāi signifique “[Ele] das montanhas” ou mesmo “o Deus de Seios” como na iconografia recente de Yahweh, que o mostra como hermafrodita (possuindo seios femininos e genitais masculinas). Bel Šadê também pode relacionar-se com o deus da fertilidade Ba’al.

O deusa consorte de Amurru é às vezes Ašratum (Asherah) que na tradição semítica do noroeste e na tradição Hitita é consorte do deus Ēl. O que nos sugere que Amurru seja a variação do mesmo. Outra tradição nos sugere que a consorte de Amurru (ou uma delas) era Belit-Seri, a Senhora do Deserto (Rainha dos Seeirim, os filhos de Azaze que habitam com ele no Deserto, em outras histórias a Rainha Sabá era uma Seeirim). 

Outro deus cultuado pelos primeiros Amoritas é Dagon, que é traduzido como “grão”, assim um deus da agricultura, sendo até mesmo comparado, se não igualado, a Zeus Aroitos (Zeus Agricultor). No Hebraico DGVN, zgd, ― Grande Peixe, um ídolo com a cabeça e as mãos de um homem e o rabo de um peixe. Seus nomes são BE-DINGIR-DINGIR, "Senhor dos Deuses" e Bekalam, "Senhor da terra". Sua consorte era conhecida como Belatu, "Senhora" e outra consorte é Ishara, deusa dos Juramentos, do Amor e da constelação de Virgem. Ambos eram adorados em um grande complexo de templos chamado E-Mul, "Casa da Estrela". Parte de Ebla e um de seus portões eram antes chamados de Dagan. Dagan é chamada de ti-lu ma-tim, "dew of the land" e de Be-ka-na-na, possivelmente "Senhor de Canaã". Era a divindade principal de muitas cidades: de Tuttul, Irim, Ma-Ne, Zarad, Uguash, Siwad, and Sipishu. Na mitologia Fenícia ele é comparado a Cronos, porem com a destruição dos textos literários fenícios, Dagon não teve sobrevivência mitológica. Era também uma divindade guerreira e protetora.

O ódio entre Yahweh e a tribo de Amalaque é primeiramente por que eles desejavam interferir no que Yahwah queria para o povo. Eram descendentes de Esaú: "E Timna era concubina de Elifaz, filho de Esaú, e teve de Elifaz a Amaleque. estes são os filhos de Ada, mulher de Esaú." Amalaque era conhecido como “o Príncipe de Edom”.

Os Amoritas eram também conhecidos pela prática da feitiçaria. A “Crônica de Jerahmeel” define-os como Mestres na Bruxaria e que adoravam sete ninfas sagradas. Na tentativa de destruí-los Kenaz, neto de Esaú, e duque de Edom, mandou destruir todos os livros mágicos dos Amalequitas, mas na manhã seguinte encontrou gemas preciosas com os nomes das doze tribos de Judá gravados. As mesmas pedras foram utilizadas na construção do templo do Rei Salomão. Segundo Agrippa: “Philo menciona sete estátuas de ouro que os amorreus possuíam, às quais chamavam Ninfas Sagradas, que quando invocadas mostravam-lhe a qualquer hora suas obras; e os nomes que eram de mulheres, esposas dos sete homens perversos, consagrados após o dilúvio: Chanaan, Phut, Selath, Nebroth, Abirion, Elath, Desuat, e sobre os quais se colocaram pedras preciosas, gravadas e consagradas, uma das quais tinha a virtude de restaurar a visão aos cegos; tampouco podiam tais pedras ser queimadas pelo fogo ou cortadas por ferro, nem obliteradas com água, até que o anjo do Senhor por fim as pegou e enterrou no fundo do mar.”


OS ANJOS CAÍDOS

A relação com os Gigantes (Nephilim) e com os Anjos Caídos é extensa. Segundo o Livro de Enoch, um dos Anjos que desceram a Terra com Azazel é Amezarak (Shemyaza), que ao homem ensinou a lançar feitiços e cortar raízes (Wortcunning possivelmente tenha suas origens com este Anjo). Amalek também aparece no Zohar, identificado a Samael/Zamael como “a serpente maligna, alma gêmea do deus venenoso.”

Veja os nomes de Azazel-Shemyaza: Shemyazarak,  Shamazarak, e por fim o mais parecido: Amerrzyarak. Como se pode perceber Amezarak é o Anjo Shemyaza, ou deve exister uma confusão com as diversas traduções do Livro de Enoch e outros livros sobre. 


LINGUÍSTICA

Zamarak significa ‘exilado’ na língua azeri do Azerbaijão, o que encaixa em suas apresentações formais ao grupo. Já na língua persa, significa ‘preto’, escuro, novamente encaixando muito bem com sua descrição de “aquele que caminhou o contra caminho de cova à útero e do útero até a cova, até quebrar os limites de seu próprio reino, até se rebelar contra sua própria existência e alcançar sua própria consciência".


A RUNA DAS BRUXAS

"Eko, Eko, Azarak,
Eko, Eko, Zomelak,
Eko, Eko, Kernnuno”

Na composição acima, Amazarak é um nome dado a Zhamael, uma qualidade que enfatiza uma natureza ignea/masculina, e Zamalek (que pode derivar da palavra curda "zomlok", que significa "casa de sapê”?), enfatiza sua natureza aquática/feminina. 


OUTRAS RELAÇÕES

A palavra gaélica 'Amarach', que de acordo com  Sean Moraghan, significa 'Amanhã'. Outro povo com uma palavra parecida é o povo Inuit, ou o povo Esquimó. Segundo eles a palavra Amaroq (ou amarok, amorak e amrak) significa 'lobo'. Já para os Nórdicos Amarok era um lobo gigante de dois metros.


° NA COVA NEGRA °

Zamarak é uma das muitas vias de ensino do Anjo Azazel-Lúcifer. Sua origem é Telúrica, nos trazendo o conhecimento das Artes Mágicas (Magia, Transmutação e Feitiçaria) e muitas outras influências na vida   (as influências deste Anjo são sempre variadas). Junto com Zomelak formam o Casal Divino, O Senhor e a Senhora da Roda do Destino. O Adorador destes Anjos se tratam com carinho: como o Amante (nome dado ao adorador) e o Amado Celeste (nomes dados aos Anjos). 

Zamarak se apresenta de diversas maneiras conforme as estações feiticeiras. Desdobrando a si mesmo ele adquire vários aspectos:


Zomelak ou Zomelaq

Água / A Dama / Lua

Conhecida como 'a Envolvente' e 'a Dama' e 'Vênus',  carrega o Símbolo de Mercúrio em sua mão direita, indicando sua Natureza Iniciática pois ela é o Primeiro Caminho em direção ao Equilibrio.  Ela quem julga abrir ou não as vias do Caminho aos Iniciantes, sem o juízo dela, ninguém segue adiante na jornada. Ela é a Rainha de Duas Faces, sendo sua outra face Zamelak ou Z'amelaq, chamada também de 'a Tentadora' esta é sua face sombria e provocativa ao Caminhante da Via Mágica. Seu símbolo é a Rosa Branca.


Amarak

Fogo / O Cavalheiro / Sol

Conhecido também como 'o Transformador', 'o Cavalheiro' e 'o Encantador'. Disse-me que ele tem o poder para mostrar o Caminho para fora do Ventre. Carrega consigo muitas vezes um cetro em sua mão esquerda, onde está esculpido os signos de Vênus, a Estrela da Sabedoria. Ele é o Fogo que Transforma através  do Amor. Chamado também de 'Diabo', 'Inimigo' e 'a Besta', aquele que oferece banquetes de Virtudes e Vícios aos Caminhantes conforme gira a Roda do Destino. 


Zamarak ou Z'amaraq

Através do Grande Rito entre as duas potências anteriores é gerado uma terceira máscara. Zomelak torna-se 'A Estrela Flamejante e Esplendorosa' gerando a Criança  Estrelar', a síntese de todo o poder aqui falado. Sua estação é a de Câncer. 

As Máscaras de Zamarak guardam segredos e suas encarnações e se estendem através do tempo. Durante o frenezi da dança é cantado o encanto antigo para o Senhor das Bruxas, o Diabo. 

"Eko, Eko, Azarak,
Eko, Eko, Zomelak,
Eko, Eko, Zamarak”



MICHAEL NEFER