quarta-feira, 5 de abril de 2023

Περσεφόνη Αφαρπάζω - Persefone Afarpázo


Perséfone é uma das divindades preeminentes dos Mistérios de Elêusis; seu culto começou em tempos pré-históricos, provavelmente, antes mesmo da criação dos deuses do Olimpo . Sua mãe fora Deméter, deusa da terra, ancestral direta das deusas da Lua e Terra, a portadora dos segredos femininos, tão temidos pelos homens. De outra parte, ela era filha de Zeus, senhor de todo o Olimpo e governante dos deuses. Não pretendo retomar o tema das lendas, deixo ao leitor a recomendação de ler as lendas de Perséfone antes de continuar esse texto.


Como a Diana romana, governava a fertilidade da natureza, sendo chamada de "aquela que abre o útero", mas acredita-se que isso seja uma infusão da filosofia de gênero cristã do século 18, quando diversas deusas virginais foram associadas à prostituição e ao amor sexual selvagem, podendo, por esta razão, ser confundida com a Afrodite inspirada em Ishtar, uma sedutora e imagem arquetípica da sexualidade e da habilidade feminina de provocar paixão e luxúria. Como a deusa do amor, ela evocava a masculinidade do homem, assim como sua dependência de seus instintos maternais, já como mãe intensificava sua natureza procriadora, garantia um parto fácil e seguro e o bom desempenho das funções maternas. A fertilidade terrestre era a especialidade de Perséfone, tendo imensa responsabilidade naquele que acontecia entre o solo abaixo de nossos pés e o reino do submundo, mas embora seja associada à fertilidade terrestre e com o submundo, a constelação de Virgem tem sido associada há muito tempo com ela e nela que descobrimos sua verdadeira natureza: que é celestial e ctônica. 


O nome de Perséfone é composto pelas partes "phero" e "phonos", que juntas significam "aquela que traz a destruição". Os romanos a chamavam de Proserpina, cujo significado é "a medrosa", mas esse nome parece estar ligado ao etrusco "phersu" e ao grego "prosopon", ambos significando "máscara". Perséfone é conhecida como a grande Kolyo. Além disso, o povo de Atenas a honrou com o título de Persephatta, que os gregos afirmam derivar de "ptersis" e "ephapto". Essas palavras juntas carregam um profundo significado de "aquela que restaura a destruição".


Ela é a personificação da primavera, a luz que irrompe após o inverno, e é por isso que se lhe atribui a virtude da virgindade, do frescor e da sutileza.  A ela pertence a verdadeira beleza, que fora associada erroneamente a Vênus, já que é Perséfone que mostra a verdadeira beleza para aqueles que passam pela sombria jornada da depressão, do sofrimento, da dor e da morte. Não há luz, sem escuridão. Perséfone é quem nos obriga a encarar nossas almas, é quem causa a dor no coração de quem tenta mudar mas continua a obter mais do mesmo. Ela é a chave de nossa liberdade e é a nossa cela, nela permanecemos até verdadeiramente renascermos em vida. Embora pouco explorado, o tema de estar aprisionado na cela de Perséfone encontra eco nas lendas e mitos que a cercam, e é possível encontrar a verdadeira essência desse fio condutor com um olhar atento.


De muitas maneiras, as lendas relatam como as pessoas são levadas para o submundo, e de como encontraram lá parentes ou amigos recentemente falecidos, que por vezes os alertam para não comerem neste lugar, já que partilhar daquele que pertence ao outro lado, te mantém preso lá.  Perséfone é chamada em diversas lendas de “a rainha das fadas”, “a terrível Perséfone”, a “rainha que governa sobre a morte e os mortos”. Esse tema é interessante quando olhamos sob a luz dos conhecimentos da ciência que esses reinos estão dentro de nós, em nossa psique e de todos aqueles que são governados pela psique helênica (todos os ocidentais). Se Perséfone rege o submundo, então ela rege também nosso subconsciente, enquanto Hades, o nosso inconsciente. Explorar o inconsciente como um observador é o que as lendas falam para nós, mas quando nos envolvemos com os conteúdos inconscientes de forma ativa, esses passam a popular nosso subconsciente e passam a contaminar o consciente com suas impressões e imagens. É nessas horas que Perséfone se faz presente para impedir uma dimensão de invadir a outra. Desse modo, ela é conciliadora, ela tranquiliza e conduz com maestria aquilo que está fora de seu lugar para onde deveria estar. Ela nos revela então seu maior segredo: não existe morte, só existe a vida, isto é, só existe beleza.


O domínio de Perséfone se estende ao submundo, onde os mortos são seus súditos, mas ela não concebe sua própria realidade dessa forma. A divindade vislumbra apenas a beleza da existência contínua e eterna. O conceito de belo ou feio carece de significado, e a distinção entre ricos e pobres não se aplica. Perséfone governa o reino daquilo que se segue, o que tanto tememos, mas que ela contempla como o movimento mais sublime do universo.


Como ela, somos todos os dias raptados ao submundo de nossas vontades, desejos, necessidades, anseios e preocupações, uma relação diferente com a morte, mas todos os dias matamos algo em nós. Esse mito também dá poder para a libertação de diversas mulheres que são violentadas e destruídas com a intrusão do masculino em seus mistérios sagrados ao resgatarem seus próprios mitos e lendas. Conhecer Perséfone não é o mesmo de conhecer uma lenda ou história, é uma iniciação para qualquer ser humano sobre como devemos chegar a um acordo com nosso próprio sofrimento, com a perda, a dor e a morte. 


Agora, como foi dito, o reino de Perséfone é mesmo dos mortos, aqueles que habitam debaixo da terra, que eram chamados com pancadas no chão, nos ritos de Perséfone, a dança também envia pisadas fortes sobre o chão, de modo a despertá-la onde quer que esteja nos prados inferiores. Durante seus ritos, todos usavam máscaras femininas e seus nomes eram trocados por nomes femininos, já que para entender esses mistérios era necessário adotar a perspectiva da mulher sobre o mundo.


O seguinte ritual visa servir a imaginação a despertar Perséfone e causar mudanças drásticas na sua vida. Sim, serão mudanças drásticas pois onde quer que você esteja, aquele que pedir ajuda dela e foi ouvido pela deusa, terá sua vida transformada, como se o universo te arrastasse para onde você deveria estar. Essa experiência aconteceu com diversas pessoas e elas me contaram sobre como o poder de Perséfone é derradeiro e sem igual, suas vidas foram tocadas pela deusa e puderam ver luz em suas vidas e mudanças em suas jornadas.


Antes do ritual procure coletar:


1 Pedaço de Papel branco

1 Pincel

Tinta vermelha

3 velas de qualquer cor

1 bacia que aguente fogo


Esse ritual não exige decorações, incensos ou itens especiais, mas você pode sentir necessidade de usá-los e recomendo que o faça conforme desejar pois isso irá enriquecer sua experiência, deixarei ao final uma tabela de recomendações.


Você deverá fechar todas as janelas do ambiente em que está de modo a nenhuma luz entrar no ambiente, para sua privacidade e para a correta encenação que fará o chamado psíquico de Perséfone.


Permita-se soltar os braços e pernas, procure um relaxamento total, você pode se deitar se preferir, mas fique quieto e só pense sobre o que você está para fazer e na importância do Perséfone, não precisa controlar a respiração, fechar os olhos, meditar, nem nada… somente pare de fazer qualquer coisa por cinco minutos, se precisar coloque um alarme de 6 minutos. 


Você pode colocar música para tocar, de preferência de origem grega, como o Hino Órfico de Perséfone ou a canção Hella do projeto musical Mother Destruction. Coloque uma canção e ouça ela no escuro, acenda uma vela e diga o mantra três vezes: Megala Thea Kouré, Karpoforos Diké!


Esse ritual exige que você por alguns momentos se permita ser bobo e dance enlouquecidamente, de modo que sinta vontade de fazê-lo, seja acompanhando algum instrumento da música ou se conectando com algo muito profundo seu, só permita seu corpo se mexer como se dançando no escuro ao lado de seus medos, de seus amigos, de seus parentes, das sombras do seu futuro e do seu passado. Seus pés batem ao chão, suas mãos voam pelo ar atingindo seus medos, sua garganta ruge como o leão para sua presa. Sua dança deve subir em energia até se alcançar um ponto de cansaço e fadiga. 


Quando exausto, caia ao chão e pegue o papel e tinta e escreva aquilo que mais te incomoda em sua vida, escreva com força e raiva de um guerreiro. Pegue o papel e queime, enquanto fita o fogo diga três vezes o mantra de Perséfone: Megala Thea Kouré, Karpoforos Diké!


Caso deseje, pode usar o cântico abaixo para enriquecer sua experiência ao final do ritual.



Cântico de Perséfone 


Eu chamo a ti, divina e poderosa,

Abençoada Rainha, Deusa Venerável,

És a fonte da vida, o poço mais profundo,

Muitas são suas formas, sua essência é a mais divina,

Iluminadora, tua veste é feita de estrelas,

És a mais fatal, Rainha do Inferno,

Mãe de nossos medos e anseios,

Com essa dança eu me oferto a ti!


És a produtora da Vida e a mão que ceifa,

Envia a tua abundância, me livra da miséria,

Afasta de mim a morte e espanta as sombras,

Para teu palácio, nos reinos inferiores,

Onde os espíritos felizes jazem,

Onde reina Hades, seu marido.



Jogue o resto de cinzas na privada, apague a vela se desejar. Não precisa jogar nada fora. Nem é necessário realizar esse rito com frequência, basta fazê-lo quando sentir necessidade.




Michael Nefer


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

O MITO DA CRIAÇÃO


No começo havia somente o Um, 

uma face singular e hedionda

que ousou se manifestar contra o Abismo 

e proclamou: 'EU SOU'.


Mas o Abismo - sendo a própria Monada -  

não desejava abrigar esta entidade,

porque, a despeito de sua aparência medonha, 

a qualidade de sua luz era restrita.

Como resultado da rejeição do Abismo pelo Um, 

seu reflexo ganhou vida,

e foi nomeado 'O Mundo'.


Este reflexo assumiu a forma de um grande Espelho,

e se tornou o oposto do Um, 

contendo todo tipo de maravilhas.

Refletindo a emancipação do comum,

ele gerou essas transgressões chamadas 

de 'beleza' e 'feiura'.

É dito que se alguém olhar neste Espelho, 

irá conhecer todas as coisas.


Entre os tesouros do Espelho de Todas as Coisas,

o maior de todos eles era o Espírito,

que, através da Luz e do Desejo, 

permeou a Totalidade.

Por estranhos meios o Espelho estava 

repleto de um fogo

capaz de animar todas as coisas,

e tudo o que ele continha, 

se tornava real.


O Abismo, ao colocar os olhos sobre o 

Espelho de Todas as Coisas,

 imediatamente se apaixonou pela 

infinitude de suas maravilhas, 

pois o que antes era Desconhecido, 

agora tornava-se Manifesto, 

e a profusão de luz que foi liberado dela 

foi chamado de Êxtase. 

Neste momento de contemplação mutua, 

o próprio Coração do Espelho se manifestou 

em chamas, e seu corpo dourado assumiu 

uma grande estatura, 

até que abandonou sua habitação, 

lançando-se no Abismo.


Ao contemplar este milagre, o Um, 

tornou-se colérico e destruiu o Espelho, 

lançando seus fragmentos, 

cada um contendo uma parte 

da Virtude Primal, através da eternidade. 

Assim o Corpo do Espelho se dividiu, 

bem como seu Espirito, 

mas o Coração do Espelho, 

continuou protegido pelo Abismo, 

enquanto o Um continuou

 a forja de seu domínio astral de restos.


De um lado da Espada há aqueles que exaltam o Um.

Do outro lado há aqueles que silenciosamente 

coletam os cacos, e o trabalho deles consiste 

em 'recriar' o Espelho, ou "o Mundo", 

como era antes da divisão.


Ambos declaram ser "a Fé Verdadeira", 

e assim abdicaram do comando da Arte Mágica.


Há um terceiro grupo, 

obscuro e invisível aos olhos dos homens, 

eles caminham na noite, 

sobre o fio da lâmina da espada, 

comandando o poder de divisão e união.


Os cacos do Espelho são por eles moídos, 

até que se tornem milhões de corpos

formados pelo Espírito do Antigo Espelho. 

Este poder é dado pelo Coração do Espelho,

de uma pequena fração de luz, 

que pode iluminar e obscurecer.

Eles são conhecidos como 'as bruxas', 

ou 'heréticos'.


 Tradução Livre por Michael Nefer
Retirado do Dragon Book of Essex
de Andrew Chumbley