A Congregação da Cova Negra é um caminho essencialmente solitário, assim como é a Bruxaria. Porém, é possível abordar essa via de aprendizado através de um formato coventicular, isso é, em grupo, de modo a trazer mais compreensão sobre a jornada mística do praticante. Cada célula de estudo da Cova Negra recebe o nome de Covato, palavra que designa um coletivo ou guilda de coveiros, e cada Covato é gerenciado por um Alcoviteiro, aquele que conhece os mistérios da Congregação da Cova Negra e que, portanto, é capaz de realizar corretamente os ritos do Missal dos Mortos.
Aqueles que desejam e anseiam pela comunidade na congregação, não encontrarão impedimentos para construir essa relação com base nas percepções do caminho dos Mortos. Essa via é sempre aberta para aqueles que portam os sinais enviado em sonhos pela Senhora ou Senhor dos Mortos. Esse sinal, que não deve ser revelado a aqueles que não conhecem a voz da Rainha Cadáver, é o elo que une a todos os que passam pela C.C.N. Numa ligação que vai além de toda e qualquer hierarquia, cada encontro é na verdade um reencontro. Seja como mestre ou aluno, voltamos a Cova para manifestar aquilo que descobrimos do outro lado: os tomos de sabedoria que jazem além de qualquer racionalização humana.
Quando um buscador recebe em sonhos os sinais e nos comunicamos, uma vez aceito o convite, passaremos por uma longa jornada de aprendizado. Esses conhecimentos que vamos explorar, costumam dar ao buscador a sensação de "já ter vivido aquilo". Essa jornada de relembrar a essência que carregamos faz a semente interior explodir em chamas e se acender com força e vigor no peio do peregrino, dando a ele novamente a consciência do poder luminoso que ele carrega dentro de si. Cada aluno estudará somente com seu mestre, de modo que esse tenha real atenção sobre as necessidades de seu aluno. Uma vez aceito, a jornada procede de tal forma e aspecto:
1. O LUTO: O CASAMENTO DE FOGO E SOMBRAS
Consiste no ato introdutório de dedicação aos espíritos e deuses do caminho da Cova Negra. Esse rito é solitário (mesmo em congregação), e visa atrair e encantar os espíritos de modo que sejam chamados a nossa Arte, criando o elo espiritual necessário para se continuar. O Chamado Casamento de Fogo e Sombras, assim chamado por evocar a fumaça que dá forma aos espíritos, é a primeira de duas etapas. Com este rito forjamos a cama de amor que leva ao assassinato de nosso antigo "eu" para o esplendoroso batismo na Luz Negra da Rainha Cadáver. Essa etapa leva cerca de um mês e meio.
2. O VELÓRIO: A VIGÍLIA DOS MORTOS ANCESTRAIS
Velar significa Vigiar e essa é a segunda parte do ritual do casamento de Fogo e Sombras. Uma vez que o Peregrino tenha feito a correta aplicação do ritual anterior, ele passará pelo período de observação de antes de receber cada ritual seguinte. Através do correto uso desses ritos é concedida uma iniciação secreta através da aplicação do arcano. Essa etapa pode levar até cerca de um ano.
3. O ENTERRO: A PASSAGEM ENTRE A COVA E O ÚTERO
Um ano depois, aqueles que foram escolhidos pelos espíritos do caminho receberão em seus sonhos as mensagens para começar sua jornada apontando os caminhos a seguir depois. O Enterro é essencialmente o ato ritual de cavar um buraco na terra e cobri-lo com terra novamente, com este último ato a Cova então se torna tanto o sepulcro de morte, quanto berço do nascimento. No âmbito conventicular isso é: o buscador passou por todos os ritos centrais da Cova Negra e agora será apresentado diretamente aos espíritos de seu mestre.
4. A EXUMAÇÃO: A REVIVIFICAÇÃO DOS MORTOS
Após a finalização formal do Enterro é feito um este ritual o peregrino passa a ser formalmente um mestre Alcoviteiro, um membro reconhecido e aceito da congregação, capaz de ensinar essa Arte para aqueles que manifestarem os sinais. Neste período buscamos encontrar o Missal dos Mortos, o tomo da Arte Feitiçaria, para que a Gnose de Nosso Senhor Chifrudo e Nossa Rainha da Noite manifestem-se através do praticante - dando luz a nova carne: o relembrar de tudo o que já somos e sabemos na encruzilhada do passado, presente e futuro. Ritos de nascimento e de renascimento são vistos como eventos felizes pelas pessoas em geral, mas tratam-se de verdadeiras tragédias, cheias de dor e lágrimas, desde que renascer é literalmente esquecer, o que mantem a humanidade presa num ciclo sem fim. A Cova busca transcender esse estado de desconhecimento ao aceitar a morta como uma poderosa professora sobre a beleza da vida.
Nenhuma dessas etapas deve ser uma obrigação ao mestre ou aluno, sendo preferível sempre seguir o que ditam os oráculos dos deuses e espíritos que podem ver além de tudo e o mais interior de todos. A Cova é um espírito e um coletivo de seres, por tanto é esperado que certos caminhos mudem, que certas trilhas se fechem e outras abram. Nossa arte é experimental, ousada e diversa, a cada pessoa que passa pela Congregação, um novo saber surge ou se renova.
Michael Nefer
27/04/2022